Importância da pecuária brasileira em números

O Brasil figura atualmente como um dos principais atores na produção e comércio de
carne bovina no mundo, reflexo de um estruturado processo de desenvolvimento que
elevou não só a produtividade como também a qualidade do produto brasileiro e,
consequentemente sua competitividade e abrangência de mercado. No ano de 2015 o
Brasil se posicionou como o maior rebanho bovino (209 milhões de cabeças), o
segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) e o segundo maior exportador (1,9
milhões toneladas equivalente carcaça) de carne bovina do mundo, tendo abatido
mais de 39 milhões de cabeças. Dono de forte mercado consumidor interno (cerca de
80% do consumo), é dotado de expressivo e moderno parque industrial para
processamento com capacidade de abate de quase 200 mil bovinos por dia. A
exportação de carne bovina já representa 3% das exportações brasileiras e um
faturamento de 6 bilhões de reais e, em termos de produto interno bruto, representa
6% do PIB brasileiro ou 30% do PIB do Agronegócio, com um movimento superior a
400 bilhões de reais, que aumentou em quase 45% nos últimos 5 anos. A Figura 1
ilustra as dimensões dos elos componentes da cadeia produtiva da pecuária de corte
em 2015.

Figura 1. Perfil da cadeia produtiva da pecuária de corte brasileira em 2015.

Evolução da cadeia produtiva da pecuária nas últimas décadas

O atual destaque em produção, comércio e mercado da carne bovina é uma imagem
completamente diferente do que se via 40 anos atrás no Brasil. Quando se tinha
menos da metade do rebanho atual, cuja produção não atendia em muito nem a
demanda da população brasileira. Desta forma, pode-se considerar que nas últimas
quatro décadas, a pecuária bovina sofreu uma modernização revolucionária
sustentada por avanços no nível tecnológico dos sistemas de produção e na
organização da cadeia, com claro reflexo na qualidade da carne bovina.
Em termos de rebanho, seu efetivo mais que dobrou nas últimas quatro décadas,
enquanto que a área de pastagens pouco avançou ou até diminuiu em algumas
regiões, o que por si comprova grande salto em produtividade. O aumento em
produtividade também se baseia em outros elementos importantes, como o aumento
do ganho de peso dos animais, a diminuição na mortalidade, o aumento nas taxas de
natalidade e também na expressiva diminuição na idade ao abate, com forte melhora
nos índices de desfrute do rebanho, evoluindo de aproximadamente 15% para até
25%. Todos esses ganhos foram possíveis graças a crescente adoção de tecnologias
pelos produtores rurais especialmente nos eixos de alimentação, genética, manejo e
saúde animal (Figura 2).

Na alimentação dos nossos rebanhos, grandes avanços ocorreram a partir do
melhoramento das pastagens existentes, como pela adoção de capins selecionados e
desenvolvidos por meio da pesquisa científica no Centro-Oeste brasileiro, e que
alavancaram a capacidade de suporte e também o desempenho animal. Em conjunto,
avanços na suplementação alimentar a pasto (mineral e proteica) e em tecnologias de
terminação intensiva, como semi-confinamento e confinamento, agregaram maior
produtividade e foram decisivos para a diminuição na idade de abate, o que está
intimamente ligado ao incremento da qualidade da carne brasileira.

Concomitante à melhoria na alimentação, se deu também a melhoria da genética do
rebanho, com diversos eventos decisivos, em um processo de contínua evolução. A
introdução do gado zebu no Brasil Central, por exemplo, foi essencial para a
expansão nesta região e se tornou a base do rebanho brasileiro, onde outros avanços
hoje ocorrem. A evolução genética das raças criadas no Brasil vem sido realizada de
forma consistente, utilizando técnicas adotadas e provadas no mundo todo, pela
atuação de produtores rurais e profissionais técnicos especializados e qualificados.
Ainda, pela diversidade de raças existentes, a atividade pode hoje aproveitar seus
melhores atributos por meio do cruzamento entre elas, conseguindo ganhos em
rusticidade, desempenho, eficiência e qualidade. Passamos de importador de bovinos
para exportador de genética superior.

Figura 2. Evolução e tendência de abates anuais de bovinos no Brasil.

Do ponto de vista de manejo e gestão, a pecuária passa por constante evolução,
migrando para uma atividade cada vez mais profissional, alinhada com preceitos de
bem-estar animal e segura do ponto de vista sanitário. A visão empresarial, a
revolução digital, o advento das novas gerações de produtores rurais e a adoção de
boas práticas agropecuárias modernizaram sobremaneira a gestão, elevando os
ganhos, equilibrando os riscos e tratando corretamente as questões legais de ordem
trabalhista, fiscal e ambiental. No aspecto sanitário, a pecuária brasileira construiu
sólida estrutura de prevenção e controle para os principais problemas que possam
tanto levar a prejuízos em produtividade, quanto levar a riscos para a saúde do
consumidor, a partir de forte atuação da defesa sanitária oficial e das instituições de
ciência e tecnologia. Considerado um dos problemas mais relevantes em âmbito
mundial, o chamado “mal da vaca louca”, inexiste no Brasil, o que lhe dá grande
vantagem competitiva frente a seus competidores e garantias sanitária para os
mercados que abastece.

Qualidade da produção

A evolução da pecuária brasileira ocorre sustentada nos eixos anteriormente
discutidos e as melhorias da qualidade dentro da porteira tem forte participação de
diversos segmentos da sociedade. Engajados na busca por produtividade, qualidade
e sustentabilidade, instituições de ciência e tecnologia, ensino, indústria, associações
de produtores, organizações não governamentais, entre outros atores, compõem um
grupo extremamente atuante e muitas vezes coordenado, com iniciativas que muito
contribuem com incrementos na qualidade dentro e fora da porteira.

No que tange a qualidade da carne, a atividade é cada vez mais estimulada a se
atentar às exigências do mercado consumidor, seja pela própria indústria frigorífica,
seja pela iniciativa governamental. O Pacto Sinal Verde para a Carne de Qualidade e
o Programa de Novilho Precoce desenvolvidos no Estado do Mato Grosso do Sul são
exemplos de esforços neste sentido e que possuem papeis estratégicos. Os
benefícios deste tipo de iniciativa são abrangentes, pois além de valorizar produtores
que produzem melhor, elevam a qualidade da carne bovina que chega ao consumidor
e orientam os sistemas produtivos para práticas que são melhores do ponto de vista
ambiental e econômico.

Os exemplos citados são alguns dos muitos existentes no país, mas que refletem bem
um importante caminho que a atividade vem trilhando, que é o foco na qualidade,
sustentado por boas práticas de produção.

Referências Bibliográficas

ABIEC. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Perfil da
Pecuária no Brasil – Relatório Anual 2016. Disponível em
http://abiec.siteoficial.ws/images/upload/sumario-pt-010217.pdf.

CEZAR, I.M. et al. 2005 Sistemas de produção de gado de corte no Brasil: uma
descrição com ênfase no regime alimentar e no abate. Documentos / Embrapa
Gado de Corte, ISSN 1517-3747; 151. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte.

LEMOS, F.K. A evolução da bovinocultura de corte brasileira: elementos para a
caracterização do papel da ciência e da tecnologia na sua trajetória de
desenvolvimento. 2013. 239p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) –
Escola Politécnica – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ajuda? Fale conosco